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Pedagoga fala sobre o impacto de medidas socioeducativas na vida dos jovens

Atualizado: 27 de jun. de 2023


De um modo geral, impacta positivamente em várias áreas: saúde, emocional, educação e profissionalização, diz Thamara Flores sobre seu trabalho com os adolescentes.


Thamara Flores, Pedagoga
Thamara Flores, pedagoga Foto: Paola Cieglinski

Thamara Flores, pedagoga do Sistema Socioeducativo há quase 13 anos, é uma das assessoras da Gerência de Atendimento em Meio Aberto (GEAMA) do Guará, unidade de atendimento para jovens em conflito com a lei e suas famílias. Segundo a especialista, o seu trabalho é focado em criar uma oportunidade para os adolescentes saírem do meio criminoso “Trabalhamos um projeto de vida com os jovens, pois a intenção é que eles não voltem a infracionar, então fazemos uma reflexão do ato, visto que chegam aqui sem nenhuma perspectiva de vida.”


Auxiliando adolescentes do Guará e da Estrutural, a especialista reforça que os atendimentos da unidade não trabalham apenas com as questões administrativas e burocráticas, mas também representam apoio no aspecto social, cultural e humanitário. As equipes de servidores são incentivadas a sempre buscar oficinas e novas ideias de atividades para tornar o processo socioeducativo o mais positivo e eficaz possível.


Foto: Bárbara Figueira


1. Há quanto tempo você trabalha no Sistema Socioeducativo?

Eu entrei no Sistema Socioeducativo em outubro de 2010, e desde então estou lotada na GEAMA do Guará.


2. Como e quando surgiu o seu interesse em trabalhar nessa área?

Na verdade, eu não entendia o que era o Sistema Socioeducativo. Eu sou pedagoga de formação, e são pouquíssimos concursos que tem na área, então eu me interessei por ser uma oportunidade de concurso. Fui conhecer o sistema socioeducativo estudando para o concurso, então prestei para especialista como pedagoga. Quando cheguei aqui, entendi de fato sobre o trabalho e me apaixonei. Atendemos Guará e Estrutural, e conhecendo os locais e as famílias, percebi o quanto poderíamos impactar vidas, o que me fez gostar e permanecer até hoje.


3. De maneira geral, como o Sistema Socioeducativo ajuda os jovens?

No meio aberto do sistema socioeducativo, nós fazemos muitos encaminhamentos dos jovens para as redes, então encaminhamos para saúde, se não estão matriculados em alguma regional de ensino, encaminhamos para fazer a matrícula e também para a assistência social, cultura e lazer, já que eles têm os direitos, mas não têm acesso. Além disso, trabalhamos com os jovens um projeto de vida, pois a intenção é que eles não voltem a infracionar, então fazemos uma reflexão do ato, visto que chegam aqui sem nenhuma perspectiva de vida. O foco do nosso trabalho é criar oportunidades, encaminhar para estágios, empregos, e quando há engajamento dos adolescentes, muitos conseguem sair desse meio e construir um projeto de vida completamente diferente.


4. Quais são algumas das funções que você tem aqui?

No concurso, passei para especialista socioeducativa pedagoga. O ideal é que cada unidade tenha um assistente social, um psicólogo, um pedagogo, que são os especialistas de referência que fazem o mesmo trabalho, mas com olhares diferentes. Além disso, temos um agente socioeducativo que auxilia os especialistas no atendimento. Eu estou há dois anos como assessora da unidade, então faço parte da gestão durante esse período, mas há 11 anos eu era especialista e fazia esses atendimentos, hoje na gestão também faço alguns atendimentos, mas os jovens são auxiliados pelos especialistas. A gestão da GEAMA trabalha não só com as questões administrativas e burocráticas, mas também estimulamos a equipe a fazer oficinas, contribuímos com ideias e fazemos estudos de caso em conjunto. Existe também, por parte da gestão, um contato com as redes para fazer parcerias, como por exemplo com o Centro Olímpico da Estrutural.


5. Quais são alguns dos auxílios que vocês oferecem pros jovens e suas famílias?

Os auxílios são de responsabilidade da assistência, nós apenas encaminhamos para que eles tenham acesso ao Centro de Referência de Assistência Social (CRAS) e ao Centro de Referência Especializado de Assistência Social (CREAS). Nós temos um cartão de transporte que oferecemos para os jovens cumprirem a medida, mas são poucos e não temos como ofertar a todos. Além disso, também oferecemos lanches perecíveis e kits não perecíveis, que recebemos toda semana, então quando os adolescentes chegam para os atendimentos, sempre temos algum lanche. Durante a pandemia, também tivemos um projeto de entrega de cestas básicas, e nesse momento estamos fazendo uma campanha de agasalho.


6. Quantos jovens e, consequentemente, suas famílias são atendidos nessa unidade?

Existe uma diferença entre os vinculados e os efetivos. Os vinculados são os menores que chegam na nossa instituição, mas que não necessariamente cumprem os atendimentos, e os efetivos são os jovens que estão em efetivo cumprimento e que participam dos atendimentos. Vinculados são em média 64 e em efetivo acompanhamento são 48.


7. Qual impacto você observa que o atendimento tem nas famílias?

Muitas vezes algumas mães chegam na nossa instituição precisando conversar e desabafar, então nós oferecemos um atendimento humanizado. Quando necessário, é oferecido encaminhamento para um auxílio, o que impacta no âmbito econômico da família. Se o jovem não estiver na escola, nós conseguimos matriculá-lo e isso abre um leque de outras oportunidades, como a inserção no mercado de trabalho com um estágio. Trabalhamos também a relação emocional do jovem com a família, promovendo eventos semanais para dar ênfase na questão emotiva das pessoas mais próximas ao menor. De um modo geral, impacta positivamente em várias áreas: saúde, emocional, educação e profissionalização.


8. Depois das últimas oficinas, você percebeu algum retorno positivo?

Ao final do curso de barbearia, que oferecemos aos jovens, eles receberam um kit básico. Uma semana depois do término da oficina, nós recebemos várias fotos de um dos alunos trabalhando na própria rua de casa cortando o cabelo dos moradores.


9. Teve alguma situação que te marcou exercendo esse trabalho?

Várias situações me marcaram ao longo do trabalho, mas quando eu visitei pela primeira vez a Santa Luzia, na Estrutural, foi um choque para mim. Casas de madeirite e as crianças correndo sujas de lama perto do lixo me mostraram a realidade das famílias, o sofrimento e o contexto da falta de acessibilidade aos direitos básicos. No começo era difícil de lidar, eu ficava abalada pelo sofrimento dos jovens e seus familiares.


10. Você percebe o interesse genuíno dos adolescentes em melhorar ou apenas levam como uma obrigação?

Quando os menores chegam aqui, a maioria encara como obrigação, mas conforme eles vão se vinculando e participando das atividades, o pensamento vai mudando e eles vão se interessando. A partir do momento em que eles observam que estão melhorando e conquistando coisas novas, o pensamento de obrigação se modifica.







 
 
 

1件のコメント


luismiguelmoreira1331
2023年6月29日

Tudo lindo: o texto, a entrevista, a entrevistada, o conhecimento... 😍👏🏽

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